Entenda como funciona o esquema de manipulação de resultados que o empresário William Rogatto expôs à CPI

De acordo com William: "Isso existe há mais de 40 anos, eu fiz parte do sistema"

A CPI (Comissão Parlamentar de Inquerito) da manipulação de resultados ganhou mais um capítulo essa semana com declaração feita pelo empresário William Rogatto, que através de uma videoconferência, expôs ameaças muito grandes à integridade do esporte e confirmou que o futebol está corrompido desde muito tempo. Confira neste artigo como funciona o esquema exposto por William.

William Rogatto é conhecido pelo sistema como Rei do rebaixamento

De acordo com o empresário de 34 anos, o esquema é pautado em equipes fragilizadas e com grande potencial de rebaixamento. Isso ocorre porque essas equipes passam por problemas financeiros e muitas vezes devem salários aos jogadores, facilitando a manipulação de resultados e o aliciamento de presidentes e jogadores.

“Basicamente, eu engano o presidente do clube. Vou pagar ele para colocar os meus atletas. Aquele time vai perder, ele vai me beneficiar nas minhas apostas. Alguns presidentes sabiam e aceitavam. Eu rebaixei 42 clubes no Brasil. Eu só posso ganhar dinheiro com eles caindo.”

Ou seja, o empresário possui grupos de atletas que consegue colocar para jogar em times fragilizados e, com isso, obter derrotas propositais para favorecer apostas contrárias aos times em que ele manipula.

William ainda diz que o esquema é grande, contando com vários grupos, tendo atuado em todos os estados brasileiros e em outros países. Além disso, o empresário afirma que a corrupção vem das próprias federações estaduais e até mesmo de dentro da CBF. Confira a fala do próprio empresário em relação ao rebaixamento da equipe do Santa Maria no Candangão:

“Quem me colocou para enganar a presidente da Santa Maria foi o próprio presidente da federação. Ele disse “vai ali que é frágil, não tem dinheiro, encosta. O marido enfartou ou sei lá, a mulher não entende de futebol e precisa de investidor”. E eu vim a rebaixar o Santa Maria. Ela acabou sendo vulnerável a mim.”

William conta que manipula jogos desde 2009 e que já rebaixou times grandes

As afirmações ficaram ainda mais chocantes quando Rogatto afirmou que manipula jogos desde 2009 tendo rebaixado clubes de tradição.

“Infelizmente, o que me dá dinheiro é rebaixar time. Se o presidente do time não está preocupado com o time dele, eu vou estar? Eu ganho dinheiro perdendo jogo, entregando jogo. É por isso que eles me chamavam de rei do rebaixamento desde 2009.”

Essa fala reforça o esquema de que times que já se encontram em situação de extremo risco de rebaixamento são mais suscetíveis a serem corrompidos, visto que não há perspectiva de melhora de escapar da queda.

Ainda de acordo com William, ele já participou do rebaixamento do Couripe, time que já conquistou 3 vezes o Campeonato Alagoano, já participou também do rebaixamento de um time grande do Maranhão, e do rebaixamento de times paulistas, cariocas e goianos.

“Eu sempre rebaixei clube, e clube grande, viu? O Coruripe, de Alagoas, e um time muito forte do Maranhão eu rebaixei. O melhor campeonato da minha vida é o carioca. Em São Paulo eu rebaixei alguns, também em Goiás, mas o maior alvo hoje são os clubes pequenos.”

A CBF e as federações são a grandes culpadas pelo sistema de manipulação?

Em um certo momento de seu depoimento à CPI, William Rogatto afirma que as grandes entidades que gerem o esporte não distribuem o dinheiro arrecadado de forma justa, abrindo margem para que os manipuladores atuem nos clubes pequenos e fragilizados.

“Eu estou dando condições aos atletas de ter um salário hoje de time pequeno. As federações e a CBF estão pegando dinheiro de todo mundo e não dá nada. Eu sou apenas um lambari no meio do sistema.”

A manipulação ocorre somente no Futebol?

Infelizmente, a questão da manipulação de resultados não ocorre somente no Futebol. A corrupção está enraizada na sociedade e acaba gerando prejuízos à integridade do esporte em diversas modalidades. William cita que já manipulou partidas de Vôlei de praia e Futsal:

“Eu também já fiz vôlei de praia e futsal.”

Existe manipulação de resultados nas grandes competições?

Boa parte do esquema é voltado para clubes e campeonatos de pequena visibilidade. Porém, o empresário não descartou que exista manipulação em campeonatos de grande porte, como, por exemplo, o Brasileirão da Série A, Copa do Brasil, Libertadores, entre outros. William diz que a manipulação nestes jogos é mais sutíl e que com apenas 2 jogadores já é possível mudar o rumo de uma partida.

“É uma opinião minha, não sei se aconteceu ou não, está nitidamente, é só você olhar os gols. Os jogadores hoje, às vezes dois jogadores, desestruturam totalmente um jogo.”

Além disso, a arbitragem também é uma forma de manipular o resultado das partidas, em que William afirma que os árbitros são suscetíveis a serem corrompidos devido ao salário muitas vezes desigual em comparação com o salários dos jogadores de grandes clubes, reforçando, novamente, que uma das culpadas é a CBF.

Tinha árbitros também, dos dois. Um árbitro hoje oficial ganha em torno de R$ 7 mil por jogo, eu pagava R$ 50 mil para ele, o árbitro ganha pouco, o gatilho do futebol está na máfia, que é a confederação, é a CBF, que tem recursos e não passa.

Vale lembrar também que mesmo com bons salários, jogadores de grandes clubes já se envolveram com a manipulação, como, por exemplo, o meia Lucas Paquetá que está sendo investigado por ter recebido cartões amarelos de forma proposital para favorecimento de apostadores.

Qual será o futuro das investigações?

Como vimos, as alegações do empresário foram muito fortes e colocam em xeque a integridade do esporte, que, segundo William, está tomado pela corrupção desde jogadores, presidentes dos clubes, políticos, empresários e até mesmo as próprias confederações que gerem os campeonatos.

Devido o grau das declarações, foi sugerido à William uma medida de concessão de segurança e uma delação premiada, mas, segundo o próprio empresário, tem gente muito maior que ele no esquema e que, mesmo com essa proteção, ainda assim ele teme por sua vida já que vem recebendo ameaças de pessoas envolvidas no esquema.

Para finalizar, William Rogatto afirma que as investigações não vão dar em nada e que a manipulação de resultados nunca vai acabar por já está enraizada no próprio sistema por mais de 40 anos.

“O sistema é muito além disso, os grandes não vão cair nunca. Estamos falando de dentro da CBF, de dentro das federações, tenho provas e vídeos. Isso não vai dar em nada, vai fazer vítimas do sistema e, no final, não vai acabar porque não é de agora. Isso existe há mais de 40 anos, eu fiz parte do sistema. Se eu tiver que pagar, vou voltar para o Brasil e pagar. Eu sou só apenas uma ferramenta, o mundo do futebol é muito mais do que a gente pensa. Não vai dar em nada, a gente vai passar por isso, nunca vai acabar, a maior máfia está dentro da federação.”

E aí torcedor. Qual é a sua opinião sobre todas estas fortes declarações? O futebol está deixando de ser uma paixão e virando cada vez mais um meio empresarial movido pelo dinheiro? Deixe nos comentários a sua opinião.

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